Tenho observado ultimamente o surgimento de muitos movimentos coletivos. Muitos começam motivados por atos de intolerância e violência. Atos abomináveis que mexem com o sentido de humanidade, solidariedade e justiça de todos.

Acho válido que lutemos pelos nossos direitos e de nossos irmãos. Acho válido lutarmos por justiça, por um mundo menos violento e tolerante. Mas acho triste que muitos desses movimentos aqueçam ânimos baseando-se nos mesmos sentimentos que combatem. Explico-me.

Hoje, eu que sou carioca, moradora do bairro da Penha, tive que assistir ao vivo pela TV um dos piores dias já vividos na cidade nos últimos tempos. O dia em que a cidade presenciou a invasão de uma de suas maiores favelas, por tanques, carros blindados e centenas de homens. Tudo a apenas 5 minutos da minha casa.

Enquanto ouvia os helicópteros e o silêncio ensurdecedor da minha rua, pensava na sensação que tem uma pessoa refugiada de guerra, no seu abandono e em sua impotência. O que fazer senão se proteger, esconder-se?

Todo esse show televisivo servia para mostrar à população que algo estava sendo feito, que ela estava sendo vingada com a retirada dos traficantes que aterrorizam há dias a todos os cariocas com os incêndios a inúmeros veículos.

Na hora que os marginais fugiam pelos fundos, o que já era previsto naquela região, a polícia nada pôde fazer porque não se preparou para a emboscada (se é que queria se preparar) e os bandidos foram saindo por um trilha de terra, desprotegidos. Nessa hora, todos se perguntavam "Por que a polícia não atira? Olha lá, matem os traficantes agora que eles estão desprotegidos! É a chance da polícia!" E a polícia não o fez seja porque estava sendo filmada ou por problemas de ordem técnica, não sei ao certo.

E aí eu me pergunto: o que torna alguém que deseja a morte de outra pessoa melhor do que um criminoso? As pessoas naquele momento queriam vingança, queriam vê-los todos mortos. E se vissem, era capaz de sair para beber e comemorar a morte dos traficantes da Vila Cruzeiro. Como se todos os problemas de violência do Rio estivessem acabado com aquelas mortes, numa grande catarse coletiva.

O que quero dizer é que ao combater o ódio de um intolerante com mais ódio, ao combater uma atitude violenta com mais violência, não estamos trabalhando para o bem. Estamos repercutindo o mesmo sentimento ruim que nos levou a agir e estamos multiplicando atitudes violentas.

Se eu acho que os traficantes deveriam sair livres? Não. Eles são criminosos e para isso existem as leis. Mas não posso me vingar com o sangue deles, nem mesmo culpá-los por tudo por aqui. A sociedade carioca, se colocasse a mão na consciência, saberia que eles são só a pontinha de um enorme iceberg. E garanto que muitos que fumam e cheiram, paradoxalmente, torceram também para a sua morte. Afinal, vender droga para o pessoal fumar unzinho no final de semana pode mas queimar carros já é um pouco demais. Hipocrisia mandou lembranças.

O que falta para todos que querem realmente lutar por algo é pensar com um pouco mais de amor. Se você realmente tem amor ao próximo e quer protegê-lo, pense: sua atitude repercute ódio ou amor? Se ela reverbera o ódio, o caminho está errado e é hora de mudar.

Vejamos o exemplo de Gandhi, alguém que mostrou que era possível agir sem violência. Algumas frases dele para pensar:

"O amor de um único ser neutraliza o ódio de milhões de seres."

"Temos de nos tornar a mudança que queremos ver no mundo."

"Não existe um Caminho para a PAZ. A PAZ é o Caminho."

"A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos.”