Ok, nós conseguimos. Se a missão era chegar no máximo do comportamento individualista, a gente chegou lá. A humanidade alcançou um estágio impressionante de separação do contato com o sagrado.

Tudo bem, na verdade, eu estou exagerando. Afinal, se fosse assim, não existiria tanta gente remando contra a maré e mergulhando em experiências espirituais intensas como se tem notícia hoje em dia. A Internet, felizmente, é um desses veículos que permitem que essas pessoas se aproximem para o trabalho em conjunto.

Mas, nem tudo são flores. A ordem vigente não é essa. Se você pegar o jornal de hoje e ler inteirinho, a única coisa que você vai ver de “espiritual” é o Horóscopo do Dia. E, muita gente sabe que antigamente (e quem sabe até nos dias de hoje em alguns veículos) o Horóscopo era escrito pelos estagiários de jornalismo só para preencher o espaço.

O homem se afastou tanto de sua existência como ser espiritual que agora chegou no limite. Sente-se sufocado por uma vida sem sentido e amedrontado diante de um planeta que não agüenta mais a sua presença. É maremoto, terremoto, furacão, a temperatura subindo e todo mundo fingindo que, enquanto estiver longe, está tudo bem e sob controle.

O grande interesse é saber quanto custa o barril do petróleo, o valor do dólar, se o trigo vai subir e o pão vai aumentar ou, ainda, em que cidade o presidente anda divulgando o PAC. Eu quero só saber o que essa galera vai fazer na hora que o planeta resolver se defender e jogar toda a sua “fúria” na porta da casa deles. Na hora que os móveis de suas lindas mansões estiverem boiando ou destroçados, ou mesmo que, além dos seus pertences, pessoas queridas percam suas vidas diante de um desses fenômenos naturais, o que eles poderão fazer? Empilhar todas as notas e tentar sentar no alto para se defender? Bom, nem isso dará para fazer, porque certamente o seu capital está girando virtualmente pelo planeta em investimentos milionários em prol de mais lucro.
Não dá mais para fingir que está tudo sob controle. Não dá mais para mentir que esses fenômenos são apenas “acidentes estatísticos”.

Gente, tá chegando a hora de acordar! Isso não é uma previsão terrorista. Isso é realidade. Só porque está acontecendo em outros lugares do planeta, não dá para ficar alheio. Não dá para ler a manchete, achar triste, fechar a página e – Tudo bem! Está acontecendo bem longe daqui. Estou seguro. Até quando vai durar essa hipocrisia?

Notícias de hoje:

“Mortos na China já são mais de 41 mil após terremoto
O número de mortes pelo terremoto na China aumentou para 41.353, anunciou o governo nesta quarta-feira (21), conforme publicou o site da agência de notícias estatal "Xinhua".
O governo chinês confirmou ainda que há 32.666 desaparecidos e que 274.683 pessoas foram feridas pelo forte tremor de 12 de maio. Ainda segundo os números oficiais, 396.811 pessoas tiveram que deixar suas casas e 6.452 saíram com vida após ficarem sob os escombros.(...)”
(G1.com.br)

“Luto em Mianmar
133 mil pessoas estão mortas ou desaparecidas em conseqüência do ciclone tropical Nargis, que atingiu Mianmar há duas semanas e meia.
Apenas agora o governo resolveu decretar três dias de luto oficial em homenagem às vítimas.
A decisão veio após o subsecretário-geral de ajuda humanitária da ONU, John Holmes, visitar algumas das áreas devastadas.”

(Folha.uol.com.br - No G1, não tem destaque na home. Deve ser porque já perdeu o interesse, ninguém mais clica.)

Por isso, acho que já temos data marcada para acabar com esse egoísmo todo. Na hora em que o planeta estiver em frangalhos, que só restarem poucos por aqui, não vai dar mais para pensar em si mesmo, no dólar ou no petróleo. Não vai haver outra saída senão pensar no todo, na nação, no planeta, no outro. Os valores serão outros.

Desculpem o desabafo.